As memórias rompem-se no silêncio, lá fora, a chuva cai e as lágrimas escorregam lentamente pela janela entreaberta. Ouve-se uma, e outra pinga... Enquanto a intensidade vai aumentado ao longo dos instantes. Estava deitada, silenciada pela voz que não me conformo, mas é a voz da razão. Ao ouvir os passos alheios do vizinho de cima, ou do lado, talvez... Não consigo me aperceber de onde surge o toque, apenas se presiona na minha cabeça, impedindo-me de tomar qualquer pensamento. Olhos abertos perante o escuro, e... tudo quanto consigo dizer que observo é "Nada"! Sinto as coisas, mas olho em frente, apenas o escuro... olho para o lado, apenas o escuro... olho para trás, apenas o escuro... Percorro o quarto com as minhas mãos, sinto os objectos. Pego num, abro os olhos e... Nada! Quarto preenchido de um vazio, quarto preenchido por nada! Vou ao encontro das vagas luzes que reflectem no vidro da janela, olho lá para fora, abrindo a janela... Agora chovia a potes sem parar, sem sequer diminuir um pouco a intensidade. Já só me era perceptivel o som da chuva a cair permanentemente e cada vez com mais força, como se conseguisse existir uma transparência de desejos, e pensamentos entre o meu pensamento e a natureza. Finalmente conseguia sentir-me compreendida.
Os corações ficam esgotados, iludidos, magoados, apresionados pelos sentimentos que se alojam em consequência de emoções que provocam. Questões imensas, repetidas algumas delas, e são básicas na sua construção "Porque tem de ser assim?", porém complexas, ou talvez mesmo sem resposta.
Hoje deixo cair a máscara para o mundo ver. Ontem sorria, hoje vêem-me de rastos a sofrer. As lágrimas percorrem o meu rosto, e pouco ando, o movimento que tenho é conseguido através de arrasto.
Olho o céu, parece que as "luzinhas", os pontos luminosos desapareceram... Para deixar cair a chuva fria, que cai sobre a minha gélida pele.
Já começa a ser madrugada, o sol irá nascer, mais uma vez, possivelmente. No entanto, sustenho o desejo que as nuvens o afoguem, o detenham. Para que o dia permaneça longiquo dos demais, e na compreensão e transparência da minha alma.
Vou ficar aqui enrolada nos meus próprios braços, absolutamente gelados. Na esperança que pelo menos o frio diminua.
Um amor como este, pensei não viver. Mas quando vivi, temi perder. Agora que perdi, cansei-me de percorrer os mesmos lugares, caminhos...
Vou deixar cair a rosa... Vou deixar cair a máscara... Vou deixar os pensamentos susterem as palavras, e os desejos permitirem a minha sobrevivência ainda que em meras ilusões.
Patrícia Vieira
28.Out.2009