terça-feira, 7 de abril de 2009
Não mais proclamarei o teu Nome
Deixei de proclamar o teu nome nos dias que correm, e já são tantos, aqueles que passaram. Já não sei com que intensidade ou emoção o proclamava, apenas lembro a palavra porque te chamava, “Mãe”.
Desvaneceram-se do céu as nuvens na chuva que continua a cair, como cai do meu coração dia após dia a lágrima do teu partir. Não partiste porque o tempo te levou, dói por teres sido tu a querer tomar esse rumo. E eu não fazer parte de qualquer um dos teus planos.
Questiono-me várias vezes se não fui a estrela que desejas-te, ou se fui o projecto inacabado que no lixo deixaste. Não encontro resposta, onde poderei ter errado? Não me vou aproximar de ti, não consigo porque não quero fazê-lo. Impediste-me de prenunciar o nome que durante tantos anos fui habituada a proclamar, não é justo que hoje o queiras mudar. E mesmo que o queiras, até mesmo que peças, ou implores da minha boca não ouvirás. Parece ser muita a saudade de uma simples palavra destinada a somente uma pessoa, mas não prenunciarei em mais nenhum dia da minha vida, ainda que me desvaneça em lágrimas.
Roubaste-me o Sol que irradiava, ainda que por entre as nuvens que permaneciam no céu. Roubaste-me todo o universo que me observava noite após noite. Roubaste-me a capacidade de compreender o valor da família. Tiras-te de mim toda a infância, mesmo a não vivida, porque ainda assim era sonhada. E vós destruís-te todos os meus sonhos!
Porque o fizestes? Deixaste-me no vazio, sem dó nem piedade, deixaste-me ao relento e ao frio.
Sem quereres saber dos perigos que corria, ou da fome que se aproximaria. Não quiseste saber, ignoras-te tudo pela tua razão de viver. Foste egoísta, e nem pensaste nos que carregas-te 9 meses de gestação, nada te importou. Terei sido um fardo para ti? Provavelmente não passei de uma falhada. Sempre que me refugiava e não queria mais nada senão o silêncio e o escuro que me envolvia.
Gritei tanto por esse nome. Tanto, em tantas e diversas vezes. Quando tive medo do escuro, quando tinha medo de alguém, quando queria que tudo terminasse, quando estava chateada contigo, quando queria que me protegesses, ou simplesmente quando te chamava. “Mãe, Mãe, Mãe”, e um safanão tantas vezes levei depois de proclamar tão alto o teu nome. Perdoa-me o nervosismo, dizia sempre eu!
Ainda me recordas, tanto quanto eu te recordo? Ainda sonhas comigo, ou pensas em mim? Ditas ser este o fim? E mesmo que não seja, a mágoa que fizeste correr, o vento que velozmente soprava e deixaste me envolver, não perdoa. Não esquece.
Ensinaste-me a Amar tudo o que não me vê, mas me escuta. Fizeste-me perceber o verdadeiro valor de ter as pequenas coisas, porque não podia ter senão o que me fazia falta, e ainda assim faltava. Não te condeno pelo que não tive, condeno-te por não nos teres dado o que necessitávamos para sobreviver para o teu maior e melhor bem-estar.
Uma equipa de basket não é feita somente com uma pessoa, e se essa joga sozinha tem menos probabilidades de conseguir assestar. Se assestas-te tudo quando querias, fizeste-o sem pensar em mais ninguém, e no jogo da “vida” vences-te sem qualquer barreira que te fizesse parar, nem mesmo a barreira dos que não seriam só parte da tua família, mas seriam parte de ti.
Sei que um laço forte nos une, permaneci dentro de ti 9meses e sentis-te os meus primeiros pontapés, viste-me pela primeira vez, pegaste-me e deste-me de mamar. Pergunto hoje, mesmo sem olhar para ti, alguma importância isso teve para ti?
Provavelmente todas as recordações que tens minhas tornaram-se vãs e mais nada faça para ti sentido senão o esquecimento de uma Filha, que viste a crescer e entregaste-a ao vento na esperança de ele a poder “varrer” para longe de tudo o que te rodeia.
Um dia hoje passado, amanhã mais outro talvez… e tudo igual, com um sentido monótono, mas com a certeza que Mãe só á uma, e a minha castigou-me fazendo-me filha do Tempo, que para mim terminou no desalento.
Patrícia Vieira
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oh my god!
ResponderEliminareste texto está absurdamente bem escrito, não só bem escrito, é sentido, nota-se que o é.
confesso que me vieram as lágrimas aos olhos, garanto que sim, não só por o texto estar bem escrito que sem duvida que está lindo mas sim porque sei que sentiste tudo isso que escreveste. :(
já sabes que sempre precisares de uma pessoa para te ouvir cá estarei.
eu percebo que te sintas melhor a desabafar com o papel, eu também o sinto...mas, estou aqui !
chorei...
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